In media res: começando pelo meio

Atire a primeira pedra quem nunca sofreu para começar uma história. Se você já se perguntou por que sua novel foi reprovada por não ser interessante, ou por que os leitores não passam das primeiras páginas do seu capítulo inicial, essa postagem contém uma boa dica para você.

Em vez de começar dando uma grande introdução sobre como o universo do seu mundo começou, que não havia nada e então, milhares de anos atrás, a vida brotou de algum jeito, que tal acelerarmos as coisas?

O recurso que tenho para apresentar hoje é justamente sobre tornar o começo mais animado, jogar o leitor no meio da ação, vamos descobrir sobre In media res, clique no Leia Mais e vamos nessa!

O que é In media res

    Vem do latim e significa "no meio das coisas". Essa ideia começou desde Homero, mas você não está aqui para uma lição de história literária, portanto vamos ao que interessa: como colocar isso na sua trama e no que isso pode ajudar ou não você.

    Já falamos anteriormente sobre como o começo da sua trama deve ser envolvente para prender a atenção do leitor. Sabemos que você tem um mundo completo em mente, quer contar os mínimos detalhes, nos explicar toda a gênese do seu mundo, porém, na sinceridade, eu não quero ler sobre como tudo começou, sobre os primórdios da sua civilização. Não, eu quero ver algo interessante, eu quero ver ação, quero ver coisas acontecendo.

    Você pode ter uma ordem de eventos bem completa que vai explicar com clareza todas as etapas do mundo, mas nós não queremos ler setenta páginas de introdução só para conhecer seus personagens e o mundo em que habitam. Seu começo não pode ser lento, isso vai deixar o leitor impaciente. Ele precisa de um motivo para continuar a leitura, alguma coisa que indique "fique com a gente que isso aqui vai ser bom!".

    In media res serve para começar do meio, em um sentido mais literal. Você começa sua história a partir de uma ação, de uma situação já estipulada, de um conflito. Seus personagens já se conhecem, seu protagonista já tem um poder especial e treinou para usá-lo, ele está pronto para cair na porrada ou está no meio de um caso, enfim, alguma coisa está acontecendo já. Tem tudo para manter o leitor preso em cada página... se bem executado, obviamente. 

    Não adianta somente jogarmos o leitor no meio da ação e esperar que dê tudo certo. Não é bem assim. Contexto é essencial. Se o leitor não souber quem são aquelas pessoas, o que aquilo importa, como que ele vai ligar para qualquer coisa que você está apresentando? 

    Nunca se esqueça de que o leitor precisa de uma base ainda, precisa entender o que está acontecendo em um nível mínimo para poder se importar com os personagens em um sentido mais básico. Você pode dar dicas sutis de que irá desenvolver melhor tudo o que está apresentando, mas ainda é preciso explicar um mínimo para que ninguém caia sem paraquedas na sua história.

Full Metal Alchemist é um ótimo exemplo de In media res

Planeje a cena de abertura.

    Falamos bastante sobre planejamento, é uma parte essencial da escrita. É preciso ter uma boa noção de como a sua história irá se desenvolver e como os acontecimentos estão dispostos cronologicamente para saber qual o melhor ponto de partida. 

    A primeira pergunta que você deve fazer: em que parte seria interessante para o leitor começar?

    Decidido isso, há outras perguntas que devem ser respondidas na cena de abertura: quem é o protagonista? O que ele faz? Qual a relação dele com os personagens apresentados na cena? Qual a importância do que está acontecendo para ele? Como a cena atual moldará os futuros eventos? A tensão da cena está clara?

    Faça uma lista, nem que precise anotar respostas curtas. Se você está em dúvida, peça para alguém ler e responder essas questões por cima. As respostas não precisam ser completas, seu leitor precisa ter, antes de tudo, uma noção dessas coisas. 

    Quer algumas dicas de como introduzir esses elementos? Confira nossa postagem: apresentação de protagonistas e primeira página.

Exemplos de In media res

    O começo do filme "A Nova Onda do Imperador". O filme nos joga no meio da história, cronologicamente, Kuzko já virou uma lhama e nos dá as informações básicas para criar qualquer interesse em sua história: ele era um imperador. 

    Só essa informação dá um gancho para começar a trama: como um imperador virou uma lhama e está no meio do nada? Você já cria uma vontade de fazer o leitor descobrir essas respostas. A história, então, volta para o começo e nos mostra com mais calma como as coisas acabaram assim.

    Outro exemplo, dessa vez de uma light novel, é o começo de "Hataraku Maou-sama" (atenção: estou me referindo exclusivamente ao começo da novel, não do anime). As primeiras páginas do primeiro volume são Maou, o rei demônio, e Ashiya, seu general, discutindo como vão pagar as contas de casa após os gastos recentes. Você tem dois personagens inesperados em uma situação ainda mais inesperada. As dúvidas de como foram parar ali já pipocam na cabeça. 

    A cena, além de mostrar que eles foram para outro mundo só pela forma como dialogam e lidam com a situação, também nos introduz um bom tanto da relação dos dois com seu novo mundo e um com o outro. Após a primeira cena, temos um flashback expositivo explicando de que mundo eles vieram, como vieram de lá e como se assentaram naquele apartamento apertado no Japão.

    Por fim, um exemplo do nosso próprio site, Knight's Selection começa com nossos dois personagens principais lidando com um assalto. Não temos uma história completa de como se conheceram, ganharam seus poderes, nem nada do tipo por enquanto. Temos uma cena que nos permite enxergar a situação exata dos dois, a relação entre eles e a polícia, como eles costumam resolver as situações e, no meio do capítulo, já somos jogados para um gancho de um arco que introduzirá outra personagem e nos contará mais sobre o mundo, Natto e Artémis, contra o que eles lutam e qual a missão deles.

    Perceba que, diferente dos dois exemplos apresentados, Knight's Selection não usa uma cena inicial para mostrar os personagens e logo depois explica a história de origem dos dois por meio de um flashback. Obviamente, alguns fatos precisam ser contados, mas eles são breves e os suficiente para que a atenção seja mantida e o leitor saiba o necessário para continuar. Nem todo In media res precisa ter um flashback expositivo em seguida.

    O importante na sua história é como ela capta a atenção do leitor. Seja a narração que nos faz querer ler mais, a trama que nos instiga a continuar para descobrir o que está acontecendo, personagens que fazem com que desejemos que tudo dê certo ou errado para eles. Você precisa de alguma coisa para nos vender primeiro antes de sair por aí explicando o começo dos tempos da sua light novel.

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