Caçadores de Reprovações - Outubro

0

Olá, pessoal, como vocês estão? Hoje voltamos com um quadro muito querido por vocês, o quadro que mostra as atrocidades cometidas contra a língua portuguesa, atrocidades causadas pelas novels ruins.

Só existe um grupo devidamente treinado e preparado para pará-las, eles estão sempre a espreita, prontos para neutralizar o próximo alvo, eles são os caçadores de reprovações! Caso não tenha visto os caçadores de setembro, clique aqui, sempre temos boas dicas do que não fazer na sua novel.



Eu? Logo eu? Por que logo eu?



A princípio, a principal conclusão que podemos retirar desse trecho pode se resumir numa aluna mandona, no caso, a famosa presidente do conselho estudantil, forçando nosso protagonista tão carismático quanto uma caixa de papelão vazia a ser seu namorado por algum motivo, enquanto o pobre coitado faz um flashback de como tudo aconteceu.

Mais algo incomoda vocês além desse enredo um tanto batido? Temos dois pontos para debater aqui, a pontuação e os “eu”. Começando lá em cima com a primeira fala, sempre que introduzirem um novo diálogo na novel, façam um novo parágrafo para o travessão.



Após o erro de vírgula depois das reticências, somos apresentados a velha dúvida dos “porquês”. Nesse caso, “por que” deve ser separado por se tratar de uma pergunta. O “logo eu” marcado está assimilado com o diálogo anterior, aqui o autor repetiu o mesmo trecho para enfatizar a dúvida do personagem, o problema mesmo está mais à frente.



Parece que o narrador já começou a enfatizar demais que ele é o sofrido da história... E antes de prosseguirmos, por favor, gravem isso de uma vez, as reticências só possuem 3 pontinhos! Assim como exclamação e interrogação só possuem uma pontuação, qualquer coisa a mais é classificado como duplicação de pontuação. No demais, lembrem-se de completar a palavra que vão escrever, já que no adjetivo “assustadora” que estava sem o “a” no final, denotando que ele se referia a um personagem masculino e não a presidente.



A construção desse trecho já começa bem estranha. Ele diz que inicialmente era uma segunda-feira diferente, especial, e depois diz que nem tanto, utilizando como argumento que ele é um bolsista frequentando uma escola de primeiro mundo...

Como é possível um bolsista que até então estudava numa “escola normal”, fato que ficou subentendido pelo narrador, achasse comum ir para uma escola “de elite” de repente? A narração apresenta argumentos que se contradizem.

Notas tão boas quanto de algum aluno que faz universidade? Entendo que a comparação é de alguém que tira notas máximas sempre, mas é uma comparação falha, porque, na prática, nem todo aluno que faz universidade tem notas boas... a gente se esforça, mas nem sempre dá, ok?



Aqui temos além da troca de tempo verbal, uma repetição de “eu” não intencional e desnecessária.
Usar o mesmo pronome repetidas vezes, pode deixar sua novel cansativa de ler e gerar um efeito contrário do esperado. Peço atenção para o “estava” que foi corrigido. Aqui ocorreu uma quebra no tempo verbal. O tempo verbal predominante, no caso, o passado, foi subitamente substituído pelo presente, algo que não deve ocorrer, mesmo acontecendo frequentemente nas nossas avaliações.


O “apenas algumas” riscado da frase é redundante e sem sentido. Apenas algumas olhavam desconfiadas, e as outras? Olhavam sorrindo? Não olhavam? Se não desenvolver esse aspecto dos personagens ao redor, então não é necessário introduzi-lo.

Mais um aviso para terem cuidado com duplicação de pontuação e interjeições. Usem interjeições brasileiras!  Até onde sei, “Um” é um número, a interjeição que o autor procurava provavelmente era “Hum”, mas também “Hã” poderia ser usada por ter o mesmo valor de dúvida. Lembrando que após usarem interjeições, é necessário, sempre, a inclusão de uma vírgula.



Nesse último trecho da página, o erro que mais chama atenção (além das reticências com 5 pontinhos), é o uso de ponto de exclamação depois dela. Normalmente não se usa outras pontuações junto das reticências, mas caso seja necessário, elas devem ser incluídas antes delas, ou seja, ficaria dessa forma “!...”.

E mais uma vez, a repetição exagerada de pronome ataca novamente. Nesse caso ficou bem ruim, e deixou a frase estranha de se ler, já que foram enfatizadas quatro vezes que o personagem-narrador estava por trás da ação. Ela ficaria bem mais leve e menos redundante de se ler se estivesse escrita, por exemplo:

“Poderia dizer que essa foi a primeira vez que alguém falou comigo no primeiro dia de aula em uma escola nova, sem eu ter que puxar assunto.”

Estão sentindo falta de algo? Algo importante em diálogos, e que não está em nenhum dessa novel? Não? Deixe-me dizer então, onde estão os verbos dicendi?

Os verbos de elocução são necessários e infelizmente pouco valorizados pela maioria dos feronas. São importantes para darem maior consistência e profundidade para seus diálogos, não se esqueçam de trabalhar seus dicendi. O Vong já falou sobre eles nessa postagem, se tiverem dúvidas de como utilizá-los e do que não fazer com eles, podem dar uma olhada lá.

Bom, pessoal, vamos ficando por aqui hoje. Obrigado por lerem até aqui, espero poder ter esclarecido pequenos erros que acontecem com mais frequência do que parece e que pronomes precisam ser usados com mais variações e de forma dosada sempre! Continuem se cuidando, leiam “Herdeiros” e “Estrela Morta”, e não se esqueçam de se vacinar, até a próxima!

Talvez você goste destas postagens

Nenhum comentário