Poderes especiais e como precisamos nos importar com eles

     Você tem a próxima fantasia épica ou shounen de pancadaria pronta para o lançamento com toda sua glória e planejamento de mais de quinhentos capítulos, no entanto, falta algo.

    Os leitores não veem a mesma maravilha no seu mundo, os avaliadores dizem que está mal descrito, ou, pior, tem uma péssima forma de expor todo esse brilhante worldbuilding que você tem aí nessa caixola. 

    Hoje vamos entender uma prováveis causas disso. Portanto, clique no leia mais e vamos começar a falar um pouco sobre como apresentar o seu mundo e por que certas etapas importam.

    Admita, você sempre quis imaginar sua novel começando com um grande combate, uma guerra magnífica, um show de efeitos especiais, muitos poderes e tudo mais. Isso é muito legal de ver, mas ler? Nem tanto.

    O leitor precisa se importar com o que está acontecendo. Em vez de jogar uma guerra mágica com arcanjos, demônios, vampiros, zumbis e o que mais você tiver em mente, comece dando ao leitor uma ideia de padrão. Do que seria o "normal". Porque só assim vamos saber que todos esses seres especiais são criaturas fora do "normal" e são coisas que devemos - ao menos, você, autor, acha que devemos - nos importar ou achar incrível.

    Portanto, antes de querer começar seu grande épico de mais de mil páginas com uma imensa batalha envolvendo todas as nações que você criou cuidadosamente... vá construindo o caminho aos poucos. Nos dê uma ideia de por que isso deveria ser importante.

    É por esse motivo que mostrar etapas do treinamento se torna importante. Hogwarts seria um mundo tão mágico se não tivéssemos sido apresentados a realidade triste de Harry Potter antes de ele ir para lá? Nós precisamos saber o que é o básico para realmente entender o maravilhoso do seu mundo. Se você jogar coisas incríveis na nossa cara toda hora, não vamos achar nada incrível logo.

    Digamos que quero escrever sobre um garoto sem poder nenhum que sempre sonhou em ser um mago, ele consegue um poder de alguma forma digna de um mangá da Shounen Jump, e entra em uma academia de magia. Ele conseguirá lançar o feitiço mais poderoso do nada? Não, calma. Primeiro, precisamos estabelecer um poder básico. Ninguém quer o calouro da escola parando o tempo ou fazendo alguma outra magia que deveria parecer poderosa logo no primeiro dia, não é mesmo?

    Portanto, vamos pensar em uma cena mais simples. Ele está lá, lendo o manual, tentando lançar uma bola de fogo, tenta, tenta, mas nada dá certo até que, de repente, fogo sai da mão dele. Animado, ele se concentra, a bola de fogo está formada, isso já parece ser um grande esforço para ele, então, de repente, o fogo sai de seu controle e... quase atinge seu colega de quarto! 

    Com uma construção de cena bem simples, podemos apresentar duas coisas importantes:

  1. Magia não é fácil de controlar;
  2. Magia exige bastante concentração;

    Tudo isso dito sem que a narração precisasse explicar em um longo parágrafo de mais de vinte linhas sobre todos os tipos de magias, suas dificuldades e o que mais. E é esse tipo de coisa que seu leitor vai conseguir pegar sozinho, o que te dá espaço (e páginas, e parágrafos!) para poder moldar os personagens com mais calma, criar diálogos e até situações que permitam conhecer mais os personagens, suas motivações e demais coisas.

    Passada essa situação, nosso protagonista de exemplo finalmente dominou uma magia. Mais tarde, ele vê seus veteranos voando em vassouras mágicas, fica maravilhado e quer tentar. Mas não consegue, parece que nunca poderá voar na vida, seus colegas, que tem um dom natural para magia, conseguem de primeira e zombam dele por isso. Aqui nós aprendemos mais coisas sobre a construção do mundo e desafios que o protagonista enfrenta. Bem como consequências para o que ele consegue e não fazer.

    Então, após algumas peripécias que deixarei para sua imaginação, pois isso tudo é meramente um exemplo para ajudá-los a visualizar a ideia, o protagonista está em uma perseguição em cima de um telhado. Sem saída, ele encontra uma vassoura velha convenientemente esquecida por perto, em uma tentativa em que vale o tudo ou nada, ele consegue voar! A magia funcionou! Ele está um passo mais próximo de ser um mago! E tanto ele, quanto o leitor, conseguem sentir isso sem você precisar explicitar na narrativa. 

    Você não precisa explicar que magia de voo é difícil, não precisa explicar que ele queria muito aprender ela, não precisa explicar o quão feliz ele se sente, pois o leitor vai sentir isso. O leitor acompanhou as tentativas dele, sabe o quanto ele quer aquilo, e fica feliz ao vê-lo conseguir. É uma forma de você não tirar um poder de onde o sol não bate para salvar seu protagonista. É uma forma de demonstrar o crescimento dele sem explicar que é o crescimento dele.

    Para finalizar, vamos passar para um favorito de alguns. Na academia em que nosso protagonista está, há um torneio entre os alunos por algum motivo que vocês devem pensar com calma, o primeiro oponente do protagonista é um jovem que consegue voar e atirar bolas de fogo com facilidade.

    O que isso nos diz? Que, apesar de todas as adversidades e complicações, aquele é só o começo. Nosso protagonista encontrará oponentes que saberão tudo que ele sabe e mais, tendo passado pelas mesmas dificuldades ou não. Esse também pode ser o último oponente que ele irá enfrentar em sua jornada, por algum motivo que vocês podem pensar. O mais importante é que esse oponente sabe fazer duas coisas que nosso protagonista penou para aprender. Ele pode ser um mago já, ser um prodígio, ser um possível rival, há muitas possibilidades de introduzi-lo, mas, acima de tudo, ele é uma marca para a história e todos os poderes apresentados no mundo.

   Ele pega dois conceitos que foram estabelecidos como "básicos, mas difíceis para o protagonista" e os combina como uma chance de ele provar o quanto cresceu ou não, e isso você não precisa dizer ao leitor. É algo que o leitor captará sozinho enquanto acompanhou a jornada inicial do protagonista.

    Portanto, essa é mais uma dica de "mostre, não conte" para você poder deixar o leitor sentir o quão importante são os acontecimentos, e não ficar contando a ele como o amigo chato que assistiu o filme com antecedência e fica falando de tudo que vai acontecer, tirando toda a graça do negócio.

    Não seja o autor que fica dizendo toda hora para o leitor "veja, isso é foda!", seja o autor que sabe mostrar para o leitor, por meio de todo o contexto da trama, como aquela cena ou momento é importante e incrível a seu modo a maneira. Saiba construir seu clímax.

    Estou dizendo que todo novo oponente do protagonista deve saber os poderes anteriores ou ser um novo obstáculo com o novo poderzinho especial que ele aprendeu? Não. Essa postagem não é para você montar aquele shounen batido cheio de power creep e personagens overpower, mas sim para que você entenda que algumas etapas são importantes e que uma boa construção de clímax vale muito mais para que o leitor se envolva, se importe e deseje continuar acompanhando seus personagens do que só ter uma narrativa chata jogando todas as informações na cara dele.

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5 comentários

  1. Por favor, traga mais fantasia no futuro! Postagem ótima, excelente e maravilhosa. Agora que eu estou escrevendo uma LN focada em tudo mágico e mais um pouco... umas dicas novas e relembradas são sempre bem-vindas!

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    1. Por favor, Tany, traga mais fantasia no futuro!*
      (Faltou um pedacinho ali qqqq)

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    2. Que bom que gostou da postagem, Fim! Traremos mais algumas dicas focadas em exposição, quem sabe não vá aparecer algo mais focado pro lado da fantasia?

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  2. Ótimo post! Curto demais o conteúdo de vocês ^^

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