Exercício de Escrita - Aprenda a escrever arcos positivos

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     Personagens são os elementos da narrativa que permitem compreender a profundidade emocional de uma história, tal como fazê-la ressoar com os leitores. Aprender a criar personagens que mudam, crescem e evoluem é uma habilidade essencial para escritores de todos os gêneros. Nesse exercício de escrita, aprenderemos a desenvolver arcos de personagem do tipo positivo: jornadas de transformação em que os personagens confrontam suas fraquezas, enfrentam desafios de todos os tipos e terminam como versões melhores de si mesmos. 

    Se você quiser saber mais sobre arcos positivos, recomendo a leitura dessa postagem antes. Se já está por dentro do assunto, então simbora!

 

 

Como escrever arcos de personagem positivos


1.    Escolha um personagem falho

    Um arco de personagem não é nada sem um... personagem. Entretanto, arcos positivos precisam de um tipo especial de personagem: aquele que possua falhas ou limitações muito claras. Uma vez que nosso objetivo é que, no final do arco, o personagem seja uma versão melhor de si mesmo, é necessário que ele seja apresentado como uma versão pior do que aquela planejada para o fim de sua jornada. Mas qual falha o personagem deve apresentar?


2.    Identificando características negativas

    Identifique os pontos fracos ou as falhas intrínsecas do personagem. Nesse momento, pode ser qualquer tipo de característica mais negativa do que positiva. Pode ser um traço de personalidade (ex. egoísmo), um medo (ex. medo da morte), um vício (ex. tabaco), uma crença distorcida sobre o mundo (ex. não existem pessoas boas).

    Uma vez que tenha identificado um ponto de melhora, planeje de que modo essa característica impactará as ações, relações e objetivos do personagem. Um personagem egoísta pode agir por conta própria sempre que puder, apenas satisfazer seus próprios desejos e traçar objetivos em que ele seja o ponto focal, por exemplo. Se quiser fazer uma narrativa ainda mais bem amarrada, primeiro entenda o tema de sua história; depois, escolha defeitos relacionados ao tema.


3.    Trace o objetivo

    Agora que já sabemos qual característica negativa gostaríamos de trabalhar, está na hora de pensar em qual característica positiva o personagem precisa desenvolver para que sua falha seja substituída por uma virtude. Por exemplo, se o tema da sua história é “Família”, um personagem egoísta pode desenvolver “Empatia” para conseguir entender como os outros se sentem em relação às suas ações e, então, começar a mudar.


4.    Planeje mudanças gradativas

    Se você chegou até aqui, é bom que já tenha pensado nas características (negativa e positiva) do personagem escolhido. Agora que sabemos onde começaremos e onde terminaremos, está na hora de dividir a transformação do personagem em momentos-chave. Para cada momento-chave que você criar, planeje uma mudança pequena e importante capaz de levar o personagem para mais próximo da característica positiva do que da negativa. Esses momentos podem ser transpostos à narrativa por meio de diálogos, jeitos diferentes de se portar, questionamentos internos e demais maneiras que facilitem ao leitor a percepção de mudança.

    Lembre-se que estamos tratando uma transformação gradativa. Muitas vezes, esse tipo de mudança pode parecer mais realista e relacionável do que transformações súbitas. Por isso, preste atenção na sequência de pequenas mudanças que planejar, de modo que elas conduzam à mudança, de pouquinho em pouquinho.


5.    Planeje catalisadores

    Mas como esses momentos-chave serão inseridos na narrativa? Através de catalisadores: eventos, interações ou desafios capazes de promover a mudança necessária para o crescimento do personagem. Planeje momentos que retirem o personagem de sua zona de conforto e o forcem a confrontar diretamente sua característica negativa. No nosso exemplo do personagem egoísta, um catalisador importante pode ser um evento que o coloque diante de uma escolha: possuir algo que sempre quis e ferir seus amigos no processo ou salvar os amigos ao custo de seus próprios desejos.




6.    Desenvolva conflitos internos

    Os leitores não têm bola de cristal para adivinhar o que seu personagem está pensando, então mostre a eles como seu personagem está tendo dificuldades ao lidar com sua característica negativa nesse momento de mudança. Foque em pensamentos, emoções, diálogos entre personagens, monólogos e até mesmo ações que contradigam, de pouco em pouco, o que ele faria se não estivesse passando por esse conflito.


7.    Reflita conflitos internos com obstáculos externos

    Um ponto importante para não transformar a narrativa em um monólogo shakesperiano é introduzir obstáculos externos que reflitam o conflito interno. Em outras palavras, significa dar a oportunidade para seu personagem agir no mundo de acordo com a nova característica que ele esteja desenvolvendo. Nesse ponto, não pense em coisas muito grandes. Para um personagem egoísta, pagar as contas do amigo já é um evento importante.


8.    Use transformações graduais

    Colocando as coisas em prática, agora chegou a hora de escrever cenas ou capítulos soltos que demonstrem a transformação gradual do personagem. Sabe aquela ideia de ajudar o colega pagar o aluguel? Pois é, hora de escrevê-la. Cada cena deve focar em um aspecto do crescimento do personagem, enfatizando pensamentos, ações e interações com o mundo. Ajudar financeiramente o amigo em necessidade é um aspecto interacional muito relevante, por exemplo. Entender o que o personagem pensa em momentos de escolha cujo resultado positivo será pior para si mesmo ou ele sugerir uma ideia colaborativa (não-egoísta) também podem ser evidências de transformações reveladas por meio de pensamentos e ações.


9.    O Clímax da Mudança

    É hora da porradaria franca entre quem o personagem era e quem ele está se tornando. Crie um momento climático no qual o personagem será colocado à prova: ele deve tomar uma decisão importante que esteja diretamente relacionada à sua característica negativa e ao seu crescimento positivo. Esse deve ser o momento da verdade. O momento em que o desenvolvimento do personagem seria percebido por qualquer pessoa. Seguindo nosso exemplo, nosso personagem egoísta poderia abdicar seu prêmio para oferecê-lo a quem mais precisava — ou para salvar o mundo.


10.    Resolução, reflexão e revisão

    Agora no final do arco do personagem, faça questão de mostrar a melhor versão dele. O personagem deve ter sido capaz de vencer a característica negativa e adotar a característica positiva como parte de si. No nosso caso, o personagem deixou de ser egoísta (pelo menos em grande parte) e se tornou mais empático com os outros. Um bom jeito de finalizar o arco é propiciar momentos de reflexão em que os personagens — incluindo aquele que passou pela transformação — reconheçam a mudança.


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