Diferenças entre Arquétipo e Estereótipo

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    Um dos temas mais famosos na escrita criativa são os arquétipos de personagemAqui no MLN, por exemplo, já falamos sobre heróis e mentores. À primeira vista, arquétipos podem parecer características recorrentes em certos tipos de personagens. Por exemplo, o Herói tem bravura e perseverança. O Mentor tem sabedoria e experiência. Mas será que todo Herói precisa ter bravura? Todo mentor precisa ser experiente? Afinal de contas, isso são arquétipos ou são estereótipos de personagens? E qual seria a diferença entre os dois, se realmente há alguma?

    Nas dicas de hoje, eu te convido a entender melhor a diferença entre arquétipos e estereótipos. Te garanto que isso vai esclarecer muitas coisas!



O que são Arquétipos?


    A palavra "arquétipo" tem origem no grego "arkhetupon", composta pelas palavras arkhe (primitivo) + tupos (modelo). Ou seja, um dos significados de arquétipo é modelo primitivo, modelo original, aquilo a partir do qual outras coisas surgiram. A ideia de arquétipo foi muito estudada por Carl Jung, um psicólogo suíço especialmente interessado no que havia em comum entre todas as pessoas: os padrões que estariam presentes na psiquê de todos os humanos. Esses padrões universais foram chamados por ele de arquétipos.

    Na literatura, a ideia de arquétipo mantém essa ideia de padrão original. Na escrita criativa, falamos de arquétipos quando nos referimos a personagens, emoções, símbolos ou narrativas que se baseiam em padrões universais de comportamentos humanos. Por exemplo, uma emoção arquetípica dentro da literatura poderia ser o amor não-correspondido, algo compartilhado pela maioria das pessoas em certos momentos da vida. Um tipo de narrativa arquetípica é a famosa do lixo ao luxo, na qual personagens ascendem socialmente até o ápice da riqueza e status. O frio simboliza a morte; as árvores, a vida. Heróis trágicos até são pessoas boas, mas com falhas tão profundas em sua personalidade que sua jornada heroica termina não com sucesso, mas com mortes e derrotas. 

    À essa altura do campeonato, eu garanto que você encontrou certa familiaridade com alguns (se não todos) os exemplos do parágrafo anterior. Mesmo que não saiba muito bem explicar o motivo da familiaridade com cada exemplo, é quase como se seus instintos e experiências de vida ressoassem com aquelas características. É assim que arquétipos funcionam: eles proporcionam ao leitor um senso quase imediato de reconhecimento ao personagem, situação, emoção ou símbolo utilizado.

    Além disso, arquétipos também representam as mais diferentes culturas que compõem a humanidade. Por meio deles, o autor pode provocar um senso de realismo à obra. Arquétipos podem promover a conexão necessária para que o leitor perceba que, mesmo que a narrativa seja de ficção, certos elementos (arquetípicos) existem na realidade. Indiretamente, arquétipos tornam seu texto mais real.

    Antes de continuarmos para os estereótipos, eu preciso que você entenda uma última coisa. Personagens arquetípicos são construídos a partir de um conjunto de características específicas e facilmente identificáveis. Isso significa que os heróis que você escreve e lê a respeito podem ter sido baseados em contos de fadas, em romances clássicos, em peças de teatro da Grécia Antiga. Se você analisar os heróis das suas obras favoritas, vai perceber que, embora eles possuam traços de personalidade diferentes, pertençam a culturas diferentes e vivam em épocas diferentes, eles também são muito parecidos: todos são mais bons do que maus e lutam contra o que é mau.  



E os Estereótipos?


    Por outro lado, estereótipos são ideias ou caracterizações simplificadas ao extremo, podendo ser aplicados a indivíduos ou a grupos de pessoas. Alguns estereótipos são positivos, como a ideia de que crianças são inocentes; enquanto outros são negativos, como o marombeiro burro. Independente de serem positivos ou negativos, estereótipos são noções tão simplificadas que se tornam indesejáveis, já que geralmente remetem a ideias carregadas de preconceitos e conotações negativas.

    Na literatura, personagens estereotípicos são geralmente rasos. Já que eles existem apenas em uma dimensão, simplificados a uma única característica que pode muito bem estar errada, não há o que desenvolver sobre isso. O atleta burro é o atleta burro e tudo o que ele faz é ser atleta e ser burro. A criança é inocente e tudo o que ela faz é ser uma criança e ser inocente. Mulheres frágeis são apenas mulheres frágeis e tudo o que elas fazem são coisas frágeis que mulheres fazem. Chefes são mal encarados e tudo o que eles vão fazer é te encarar com cara de fome. Isso são estereótipos. Percebeu como muita coisa aí não é exatamente assim?

  Não existe correlação real entre atletas terem menos inteligência. Pessoas que fazem exercício podem muito bem ser inteligentes, seja em uma área, em outra ou em várias. Crianças podem muito bem não ser nada inocentes. Mulheres podem passar muito longe da fragilidade (como muitas delas fazem todos os dias). E nem todo chefe é um carrasco que quer comer seus olhos no jantar. 

    No final das contas, estereótipos são personagens com características generalizadas e geralmente não passam por um desenvolvimento ou transformação ao decorrer da narrativa, já que são baseados em uma única característica que não pode mudar - ou o personagem vira pozinho. 


Resumo das diferenças


    Arquétipos são padrões de características ou emoções baseadas em experiências universais que englobam um conjunto de características específicas e facilmente identificáveis. Por outro lado, um estereótipo é uma ideia reducionista que geralmente cai no lado negativo das coisas. Na literatura, os arquétipos promovem reconhecimento e senso de realidade para o leitor. Por outro lado, estereótipos produzem personagens rasos que podem ridicularizar determinadas pessoas ou grupos sociais, já que são baseados em uma única ideia super simplificada.

    Por exemplo, mentores arquetípicos geralmente possuem características parecidas entre si: possuem forte ligação com sabedoria, ajudam o protagonista independente da cultura ou época, possuem conhecimento em uma área de expertise. Por outro lado, um mentor estereotípico pode ter uma longa barba e falar difícil, o que parece simbolizar sabedoria sem base narrativa alguma pra isso.

    Arquétipos podem servir para personagens, emoções, símbolos ou narrativas; com muito ou pouco desenvolvimento. Estereótipos, porém, geralmente produzem apenas personagens secundários que não se desenvolvem. 

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