Caçadores de Reprovações: Julho

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    E aí, feronas! Como andam as coisas por aí? Já leram o mais novo capítulo de Herdeiros? Estamos aguardando sua leitura e seus comentários!

    Mas não é sobre obras aprovadas que falaremos hoje. No Caçadores deste mês, conversaremos sobre a importância do contexto e da verossimilhança. Afinal, para contar uma história ser boa, ela deve ressoar com o leitor. E quando isso não acontece?

    Bem, se ela foi enviada para nós, provavelmente vem parar nesse quadro tão querido e adorado. Para ver a pérola deste mês, basta Ler Mais!



Na mira!


Nomes demais, descrições de menos



    Primeiro, vamos dar uma olhada na frase de abertura da novel. Não é um tópico frasal ruim (para saber o que é tópico frasal, leia essa postagem), mas poderia ser melhor. Quando iniciamos um parágrafo, principalmente quando se trata do parágrafo inicial de uma história, é preciso pensar bastante em qual será a exata primeira impressão do leitor e como isso está ligado ao parágrafo em si. Autores geralmente utilizam construções genéricas logo no início (como a clássica "Ferona acordou, se levantou da cama" e relacionados), mas isso passa uma impressão de que a história será igualmente genérica. Além disso, em um parágrafo que começa com o personagem acordando, o esperado é o assunto abordado nele seja... Exatamente! O personagem acordando ou a rotina inicial dele. 

    Neste caso, a primeira fase é OK. Mas o resto do parágrafo não condiz muito com esse início. Talvez fosse melhor dar um tempo para o leitor (e o protagonista) processarem tudo o que está acontecendo. Esse é um dos grandes problemas dessa novel e isso não se restringe somente a esse parágrafo. 

    Veja a frase "lugar semelhante a uma arena". Como é essa pseudo-arena? Por que ela não é uma arena como estamos acostumados? O que tem de diferente na forma e na estrutura dela? Qual a sensação que ela transmite ao protagonista? Todas essas informações valiosas passam batido. O autor perde a oportunidade de utilizar o primeiro parágrafo para mostrar a reação do personagem logo que acorda em um ambiente diferente  e encaixar a descrição desse ambiente logo em seguida. Até agora, o universo mostrado é apenas "algo semelhante a uma arena" no mais completo vácuo. Sem sons, sem cheiros, sem emoções. Só uma arena e... Outros seres.

    Aí entramos nesse problema de novo. O autor faz uma lista grande de seres imaginados que, na cabeça dele, provavelmente são tão claros quanto a pele de um vampiro. Você poderia argumentar que elfos, anões e fadas são seres conhecidos e não precisam ser descritos. Na verdade, é o contrário disso. Existem muitas versões de elfos, anões, fadas e criaturas com asas por aí. Muitas. Como saber qual é aparência da criatura que o autor descreve se ele não a descreve, apenas espera que adivinhemos o que ele imaginou? Uma alternativa viável para evitar uma descrição estilo-lista-de-mercado é apenas descrever o panorama de maneira geral. Primeiro, apenas mostre o que há. Depois, quando necessário, aprofunde.

    Ah, falando em haver. Quando o haver tem sentido de existir, ele não vai para o plural. E o que há, aqui, é um protagonista que reage a um mundo completamente diferente dele, com arenas e criaturas misteriosas, com a mais profunda... Apatia. Veja como sua primeira preocupação é a de contar os seres. Quem, em sã consciência, teria a apatia como primeira reação e contagem como primeira ação enquanto está envolto por criaturas fantasiosas? Aparentemente, o protagonista.

Pronomes e repetições

    

    
    Eram oito seres. Uma informação apresentada em um contexto bastante verossímil, como já conversamos anteriormente. Bem, prosseguindo com a análise. Pessoalmente, eu recomendaria não aglutinar muitas informações na descrição que segue o diálogo. Lembrem-se que essa descrição serve para assinalar, de maneira geral, aspectos relacionados ao diálogo (quem disse, como disse, quando disse, onde disse). Ações que fogem a isso devem ser jogadas para um parágrafo separado. Nesse caso, tudo após "contagem" deveria ser um parágrafo distinto.

    Mais adiante, vemos a utilização do pronome demonstrativo nesse. Pronomes demonstrativos servem para demonstrar (a-ha!) a posição de uma coisa em relação à outra, seja no espaço, no tempo ou no próprio discurso. Por exemplo, em relação ao espaço físico, "nesse" é usado para indicar coisas que estão longe de quem fala, mas perto de quem ouve. Em relação ao tempo, é usado para eventos passados — como no exemplo da novel. E em relação ao discurso, é usado para se referir a uma informação já apresentada anteriormente. 

    Passando adiante, eu tenho uma pergunta para te fazer. Você sabia que o grande Malakai exterminou TODOS OS HUMANOS DE SEU PLANETA? Se não sabia, agora saberá para sempre. E não é somente essa informação que se repete nesse trecho. Em itálico, eu grifei todos os "tinha/tinham" desse parágrafo enorme composto apenas por 2 linhas de diálogo e muita descrição genérica pós-diálogo. Normalmente, isso acontece por três razões: 1) o autor ainda não tem repertório o suficiente para construir uma frase sem repetições; 2) o autor não revisou o texto antes de mandar; 3) o autor que poderia dar ênfase nisso através da repetição. 

    O último comentário eu vou deixar para você pensar. Afinal de contas: o que é um caótico, como é a aparência dele... E, nesse contexto, o que é uma boa aparência? Assim como nos trechos observados anteriormente, o autor só espera que saibamos o que ele quer dizer sem estabelecer nenhum grau de comparação antes. 

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2 comentários

  1. Ótima postagem!
    Ainda existe o servidor no discord? Tentei acessar, mas o convite está inválido.

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    Respostas
    1. Sim, nosso servidor do discord ainda existe e está aberto. Atualizamos o link de acesso nessa postagem, obrigado por informar que ele estava inválido. Deve estar funcionando normalmente agora.

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