Ferona, o Construtor: O Planejamento Narrativo

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Ferona, o construtor
Podemos planejar?
Ferona, o construtor
Podemos sim!

Yumi, Hik e Riku e o Shin que sumiu
Enquanto a Tany, o Vong e Shiro riem no covil.
Nero e Matheus, quanta diversão
Ajudando todos juntos na avaliação!

Ferona, o construtor
Podemos planejar?
Ferona, o construtor
Podemos sim!


Para uma pequena parcela dos escritores, o planejamento da história já acontece dentro da própria ideia, como se fosse uma espécie de nascimento de gêmeos: vem o enredo e, de quebra, ainda todo arrumadinho. O mais normal, todavia, é que esses irmãos não venham juntos, e sim depois de um período de tempo considerável até o primeiro se acostumar com o segundo. 
Por isso, a fim de evitar posteriores frustrações — tanto para você que escreve, tanto para nós, que avaliamos —, é melhor que pare de aprender a escrever e, antes de tudo, aprenda a fazer cosplay narrativo do Bob.


 Se você não conhece esses três caras, acho melhor ler a postagem.



OS EXTREMOS MAIS PARECIDOS QUE OS MEIOS


Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da Língua Portuguesa, é conhecido por seus diversos heterônimos — uma espécie de personalidade que variava com o poema. Em sua biografia, o poeta conta que, ao escrever um dos maiores poemas em que assinou como Álvaro de Campos, não precisou planejar nada: as coisas apenas fluíram e a revisão sequer foi necessária. 

Mas ele era um gênio, claro que isso seria normal para alguém assim!

Acontece que, depois da morte de Pessoa, seus biógrafos encontraram diversos textos nunca publicados pelo poeta e parte deles era composta justamente por rascunhos e versões do tal poema gigantesco. O que ele disse não foi uma mentira, mas sim um atestado de que alguns escritores são tão disciplinados que o processo de desenvolver, arranjar e elaborar o caminho de seus textos é tão comum que sequer é tratado como tal. 

E há também um caso curioso na outra ponta da reta. O escritor brasileiro Autran Dourado, um dos ganhadores do maior prêmio brasileiro de literatura, chegava até a fazer desenhos para representar a estrutura dos seus livros. Isso mesmo: o cara que ganhou um prêmio nacional pela Academia Brasileira de Letras desenhava suas histórias antes de começar a escrevê-las de verdade. 

Perceba, ferona, que não tem só um jeito de fazer as coisas. Algumas vezes, só reflexão e boa memória simplesmente não funcionam. Então é necessário planejar sua narrativa com técnicas que podem ir desde o esquema tradicional até a técnica moderna. 


Pode pegar o café que agora as coisas vão começar .


VIA TRADICIONAL: PLANEJAMENTO POR ESQUEMA


O nosso planejamento é parecido com um itinerário de viajante, tirando o fato de que não é tão restrito quanto um roteiro de viagem. É, na verdade, um conjunto de orientações que seguem, por sua vez, um conjunto de regras — as estruturas narrativas, explicadas nessa postagem. Esse roteiro de escrita é o que te permite converter seus pensamentos embaralhados em palavras de uma maneira bastante tranquila e, ao mesmo tempo, flexível o suficiente para que as mudanças tenham espaço. Afinal, um esboço, assim como o texto final, também pode passar por diversos rascunhos. 

  • Para começar: pegue uma caneta e um papel — nosso cérebro assimila melhor as informações no papel, por isso, evite os softwares de escrita — e comece a anotar todos os pontos que tem em mente acerca da história. Nós desperdiçamos energia mental tentando armazenar tantas informações na memória, então esse passo é importante para que não se esqueça dos seus futuros bons acertos e erros desconcertantes. 


Você pode não ter muita certeza da ordem dos fatos ainda, então só coloque o que achar interessante. Uma vez que tenha essa noção, pode só arrumar os tópicos em vez de escrever tudo de novo.

  • Terminando sua primeira leva de ideias: melhor dar uma pausa e ir fazer outra coisa. Depois, volte e releia todos os tópicos novamente e com atenção; isso pode te dar novas ideias.
  • Edite o que escreveu: sublinhe o que achar mais interessante, coloque uma interrogação na frente daquelas ideias mais duvidosas e aproveite para riscar tudo o que achar que não funciona. Você pode criar seu próprio código também, usando outros símbolos. Ah, e pode aproveitar para usar as setinhas, associando as ideias mais relacionadas.
  • Releia — mais uma vez: outras conexões vão se tornar mais evidentes e os temas podem ser criados, desde histórias individuais até coisas que reverberem por toda a estrutura. Até que, finalmente, pode lhe ocorrer a ideia provisória que vai organizar todos os elementos de uma maneira coerente.
  • Reestruture: é interessante que você opte pelo diagrama de árvore (imagem ao lado), pois ele revela com clareza e importância as ideias e a maneira pela qual elas se relacionam, sendo as ideias no topo mais relevantes (acontecem primeiro) e as de baixo, subsequentes.
  • Agora chegou a hora de testar: Veja se o seu esquema não está muito lotado de coisas ou existem informações que não se completam. Ele dá destaque para a ordem em que os itens estão (mais importantes ou rápidos em cima, menos importantes ou lentos abaixo)? Não está arrumadinho demais e não permite modificações? Caso a resposta seja sim para alguma das perguntas, tente organizá-lo de outra maneira até que as ramificações fiquem bem arranjadas.



VIA MODERNA: O PLANEJAMENTO POR RASCUNHOS


Tudo bem, eu entendo se você perdeu a paciência com o esquema de árvore e galhos e apagar coisas e colocar coisas. Sendo esse seu caso, tenho uma coisa para te contar: você não funciona para aquele lá. O seu trabalho só vai avançar quando você começar a escrever o texto, ou seja, um rascunho — porque a versão final é sempre bem diferente da versão original.

Aqui não importa por onde você quer começar. Pode escolher qualquer ideia promissora e começar a trabalhar nela. Qualquer uma mesmo, não importa a ordem. Escrever gera uma ideia que gera outra e outra e outra que forma uma conexão que forma outra em um processo de mitose criativa, até que a estrutura surge. Mas, para que você não se perca nessa loucura de... improviso — ou brainstorming —, tome aqui algumas dicas.

  • Escreva o mais rápido que puder. Não se importe com o estilo, com a descrição, e nem em terminar um período se não quiser. Se uma ideia surgir, escreva-a, ainda que a anterior fique pela metade. Lembre-se: você quer desenvolver uma estrutura, não um texto já polido e refinado.
  • Se ideias diferentes aparecerem, anote-as em uma folha diferente. Talvez ideias totalmente desconexas com o que você procura apareçam, tipo uma ideia de personagem pistoleiro quando está escrevendo um sci-fi. Mas, novamente, não se importe com isso e escreva em um lugar separado do material coeso. Você vai ficar surpreso com a quantidade de ideias podem surgir.
  • Se não tiver nada mais para escrever, organize. Caso as ideias tenham acabado, parta para outra folha — muitas folhas por aqui, a mãe natureza não aprova esse método — e tente elaborar um esquema. Agora que você já escreveu muito, isso pode ter feito conexões mentais e você já pode distinguir uma ordem legal para os fatos. Mas, se ainda não conseguir fazer isso, volte ao rascunho e procure por ligações que podem te levar à estrutura. E, em último caso, se nada de bom surgir, volte duas casas e comece de novo, usando uma ideia inicial diferente.
  • Essa não é sua versão definitiva. Olhe para seu rascunho como um estímulo, não como o meio final que será publicado. Seu propósito é organizar as ideias e ter uma base do que você quer, não jogar ele em um formulário e enviar para nós pedindo socorro. Quando terminar seu rascunho, coloque-o de lado e inicie o projeto do texto, elaborando um esquema, escrevendo um rascunho melhor e aperfeiçoando esse novo texto até que alcance a sua versão final.

Então, deu para ter uma base sobre o que fazer antes mesmo de começar sua história? Viu como o planejamento pode ajudar você a encontrar ideias melhores, mais coesas e refinadas e, até mesmo, a fugir do clichê? Quanto maior sua bagagem, melhor para você: a postagem de arquétipos, clichês e estruturas pode servir para tornar seu texto menos previsível e mais aceitável. Espero ter te ajudado nesse primeiro passo em direção a mudar seu título: passar de Ferona, o Construtor; para Ferona, o autor. 
E enquanto você não chega lá, nós continuaremos a cantar nossa música para te encher de DETERMINATION:


Vamos revisar, há muita coisa a fazer
Destruir e reprovar até anoitecer
Ferona e sua turma que não leem mais
Quando reprovam todos juntos é tarde demais.

Podemos planejar?
Sim!
Podemos imaginar?
Sim!

Ferona, o construtor
Podemos aprovar!
Ferona, o construtor
Podemos sim!



A penny for your thoughts.

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9 comentários

  1. Eu faço algo similar ao 2° método no Ywriter atualizando-o com a escrita no Docs.
    De fato, é muito bom compreender os conceitos que você já pratica naturalmente para refiná-los. Mais um post digno de aplausos ( Eu cantei no ritmo da música haha)

    Agora, uma little dúvida haha:
    Eu possuo o hábito de escrever rascunhos de diálogos que são próximos ao fim da história. Eu devo adaptar todo o desenvolvimento da trama em prol de tais diálogos? Se os mesmos forem indispensáveis ao texto.

    Na verdade, eu "sequer" inicio o desenvolvimento enquanto planejei boa parte do término e do inicio.(Talvez porque seja necessário o uso abusivo de Lsd e um estudo infinito).

    Seria uma espécie de limitação a criatividade?
    Help haha

    by: Aqua-sama

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    1. Olá, Aqua! Fico muito feliz e agradecido que tenha gostado da postagem. Obrigado. ~

      Quanto à sua pequena doubt: escrever partes da história, principalmente os diálogos, é uma ferramenta que ajuda a não enjoar do enredo. Quando os autores ficam meio desmotivados, fazer esse exercício de escrever o que está por vir ajuda a recuperar a DETERMINAÇÃO.

      Se os diálogos forem realmente indispensáveis, eu não acho que você tenha que adaptar todo o desenvolvimento da trama. Porque você, provavelmente, já fez isso. Eles serão uma consequência do que vai escrever e, sendo essenciais, uma hora ou outra vão aparecer. Mas aí é você com o planejamento, talvez você ainda não tenha descoberto a hora de introduzi-los. Porém, quando chegar perto deles, você vai saber.

      Planejando o início e o fim você já terá uma noção do que fazer, porém, o desenvolvimento também é algo a ser explorado. É nele em que os conflitos vão aparecer, ou seja, onde a carga do gênero (ação/drama/aventura/mistério, por exemplo) vai ficar mais forte. Eu acho, pessoalmente, que é bom dar uma planejada em sequência. Guarde suas ideias de término e comece pelo início, desenvolvimento e, por fim, o fim.

      Creio que, dessa maneira, as ideias se entrelacem melhor e você tenha um resultado mais complexo, em que uma ideia do início afeta o desenv., que afeta o fim, que afetaria o próprio desenvolvimento, que afeta a maneira como o início vai acontecer.

      Tente seguir a ordem. Se não der, você também é livre para desenvolver um método próprio, que melhor se adapte a você. Não creio que seja uma limitação da criatividade, mas algo que poderia render melhor caso seja aplicado na "ordem natural das coisas".

      Espero ter ajudado. Qualquer outro parecer, é só dizer!

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  2. Estou usando o seguinte modo(podem me falar se pode funcionar?): Primeiro eu tive as ideias e fui armazenando elas na minha cabeça(algumas surgiram naturalmente, outras usei de ideias antigas e modifiquei-as, tive novas ideias e correlacionei-as etc.). Estou criando uma história de fantasia para se desenvolver em vários livros, então, enquanto as ideias dos personagens e conflitos surgiam, fui criando o mundo em que a história vai se passar(com base nas ideias que já tive), criei reinos, algumas pessoas que tiveram importância no que tá acontecendo agora, dei passado aos personagens, criei mitos e lendas que são importantes para a história(exemplo: como surgiu o conflito que está acontecendo agora; por que ele está acontecendo; como surgiu o elemento principal da história; etc.), então estou anotando a porra toda no Word(ainda estou anotando, porque é muita coisa), e conforme anoto e reviso, modifico a história. Então, quando eu achar que tiver uma boa base, vou começar a montar um roteiro da história(tipo: no inicio tais personagens vão enfrentar um troll, e usar isso pra mostrar um pouco dos meus personagens; depois eles vão acampar e com isso vou mostrar o objetivo deles, o que eles estão fazendo, onde estão indo; depois bla bla bla), enquanto monto o roteiro eu vou escrevendo os capítulos em si. Enquanto isso tudo, relerei tudo e ver se está saindo conforme quero. E por aí vai até eu terminar o primeiro livro.

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    1. Olá, hide.
      Cada autor possui um método próprio que funciona para o mesmo.
      Seu método apresenta um planejamento forte para a construção de mundo da história.

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  3. Recentemente comecei a usar um método próprios que consiste em fazer as perguntas "por quê?" e "como" e queria saber se vocês acham que ela está bom.

    Ex.:

    1° Fase

    "Após descobrir ter poderes mágicos, João parte em uma jornada para derrotar o Rei Demônio.”

    Por quê?

    “Porque o Rei Demônio está atormentando o reino a décadas com sua horda de monstros.”

    Por quê?

    “Porque o Rei Demônio busca vingança contra o reino.”

    ...

    2° Fase

    “Após descobrir ter poderes mágicos, João parte em uma jornada para derrotar o Rei Demônio.”

    Como?

    “Obtendo a lendária peixeira mágica que pertencia à seu avô.”

    Como?

    “Recrutando seus amigos para procurá-la nas ruínas de um antigo reino.”


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    1. Olá, Artthur. Seu método é bom para delinear os escopos iniciais da história. Recomendo que dê uma lida nessa postagem para poder ver como prosseguir.

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