Descrições: Os Perigos da Caverna

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Já compartilhamos dicas de escrita a respeito do desenvolvimento de boas descrições. Também já trocamos uma ideia sobre os tipos de descrições e maneiras interessantes de utilizá-las. E, ainda relacionado, vimos até a relação entre as figuras de linguagem e o impacto dessas ferramentas na narrativa. Porém, continuamos a receber roteiros, prosas de pré-escola e afins.

A seguir, acompanhe a trajetória de nossos revisores e avaliadores em busca da descrição legível e descubra o que fazer para encontrá-la sozinho, desviando de seus maiores perigos!

Bem-vindos à Caverna das Novels!


PANORAMA GERAL 


“Você está caminhando em um corredor largo, dentro da Caverna das Novels, e percebe que o teto está repleto de estalactites que parecem querer desabar a qualquer momento. Em seu cinto, carrega apenas uma lanterna reserva e alguns suprimentos para não passar fome: melhor não se prolongar muito na visita. Então, o que você faz para conseguir chegar ao outro lado em segurança: corre ou continua esperando?”


DICA 1: NÃO SE APRESSE, CAMPEÃO
 Atravesse a caverna sem ferimentos+

É muito comum o autor iniciante focar no aspecto “Light” da novel. Ele começa a correr desesperado com as informações, querendo terminar logo e partir para os diálogos. Todavia, como já dissemos anteriormente, você precisa dizer para nós uma coisa antes de desenrolar outros aspectos fundamentais da história:

Onde? – Seus personagens estão em uma casa, na rua, no centro da Terra? Se outro aspecto influenciar, cite-o também: estão no escuro; está chovendo; está muito quente? Assim, você mostra para a gente onde imaginar seus personagens e pode até mesmo levar os leitores a imaginar as consequências dessas ações. Por exemplo, caso seu personagem esteja cercado por livros, podemos deduzir que ele é intelectual; se estiver sozinho ao ar-livre no parque, pode ser uma pessoa mais solitária; se estiver em uma festa, ele pode ser mais sociável!

Por isso, não saia descrevendo os lugares como se eles não tivessem importância ou simplesmente deixe de colocá-los: esses carinhas são tão importantes quanto qualquer outro elemento da trama! Vá com calma, analise a situação e veja o que deve ser descrito e faça isso devagar, com cuidado. Com uma descrição após a outra você chega onde quiser.



DICA 2: NÃO DÊ UMA DE LOUCO
Veja o que pode usar ao seu favor

Outra coisa que se repete bastante é a capacidade do autor de descrever informações desnecessárias — fico impressionado. Vamos usar um exemplo:
Geralmente quando as pessoas morrem não sabem, pra onde vão ..... mas nessa história elas vão pra  oykoto, uma cidade idêntica a tokyo em tudo , o diferente são os prédios e casas que podem variar de cor umas chamativas e outras nem tanto .... e seus prédios não tem terraço, eles são dobrados como chapéus de bruxas e varia de prédio para prédio . E também o que não muda é cultura. Por exemplo mangás, animes , Light novels, comidas típicas, cinema, teatro, a diferença é que no lugar dos templos eles viraram pontos de conexão com o mundo dos vivos e pra você que esperar uma obra de terro .... se enganou.

Fora a pontuação e ortografia que nos dão vontade de furar os olhos com alfinetes, atentemo-nos às descrições. O autor utiliza comparações com o mundo real — o que pode ser ou não interessante, dependendo do público-alvo — e cita características da cidade, como prédios com tetos de chapéu de bruxa? e a cultura. Perceba que isso poderia ter sido dito mais pra frente, quando o personagem contempla o céu de... Oykoto, ou passa pelas ruas e se depara com lojas de mangás e cultura relacionada. Esse trecho ficou isolado do restante da narrativa e poderia ser desmembrado facilmente.

“Oh, Vong, mas você não disse que eu tenho que situar o leitor no espaço?”

Sim, eu disse isso mesmo. Mas você presumir que todos conhecem Tóquio de cabo a rabo, sabendo as características únicas dos bairros e afins é um pouco demais. Poderia dizer que, por se tratar de um universo paralelo e espelhado, as coisas são parecidas, mas também é preciso que diga o que essas coisas são. Como é a rua em que seu personagem está? Tem lojas por todos os cantos? Tem teatros em todos os lugares? Muita gente ou pouca gente? Sabemos que é parecido com Tóquio, mas como é Tóquio para você? E ainda que fosse igual, você não pode simplesmente dizer pro seu leitor:

“Veja, isso aqui é igual a Tóquio, vai procurar no Google tudo o que eu falar.”

A narrativa tem que se completar por si mesma.
Sua personagem está em um lugar? Diga.
Foi pra outro? Conte como ele é.

Não dê uma de louco e saia colocando informação desnecessária só porque você quer.


DICA 3: ALGUNS DETALHES APENAS NÃO IMPORTAM
Atente-se aos detalhes principais que te levarão onde deseja chegar


Okay, você tem que parar e pensar antes de escrever alguma coisa. Tem que situar o leitor no espaço. Mas nem só de espaço vive uma trama. Vamos para o terceiro erro mais comum: descrever os personagens.

“Agora eu não entendo mais nada.”

Espera, as coisas são mais simples do que você imagina. Vamos usar outro exemplo.
Minha aparência ... de X anos, eu sei aparentemente novo mas com grande sucesso, e fã de animes de cabelos pretos, mas que quando é forçado a lutar por causa de disputas por domínio da gangue.
E geralmente estou com uma blusa branca, calça vermelho até quase o pé , um tênis all stars .... com a minha coroa prata , como um reconhecimento.

E lá vamos nós.
  • “Minha aparência... de X anos”. Eu não gosto de colocar idade dos personagens logo de início, mas como esse carinha é um chefe de gangue (os quais são normalmente adultos), damos um desconto. Todavia, poderia colocar essa informação em um diálogo, em que se referem a ele como uma criança ou algo do gênero, ficaria mais natural e sem essa exposição.
  • “mas com grande sucesso”. A ideia de sucesso é relativa. Além disso, nada nesses 2 parágrafos iniciais me mostra que ele tem sucesso. E se mostrasse, não precisaria dizer porque estaria xingando o leitor de acéfalo. Pode mostrar depois e mesmo assim ainda continuaria sendo irrelevante dizer.
  • “Fã de animes de cabelos pretos”. Isso não faz sentido algum, mas vamos imaginar que faz. Ele é fã de anime: poderia mostrar que o quarto dele tem coisas relacionadas a animes mais adiante, quando ele estivesse indo dormir ou algo do gênero. Ele tem cabelo preto: dizer isso é realmente necessário?
  • “Mas que quando é forçado a lutar por causa de disputas por domínio da gangue.” Isso também não faz sentido. Poderia até dizer que ele é chefe de gangue e luta dentro dela por isso, mas construir uma cena em que os personagens de dentro da gangue começam a discutir e travar disputas ficaria melhor. É o clássico: não diga, mostre.
  • “E geralmente estou com uma blusa branca, calça vermelho até quase o pé , um tênis all stars .... com a minha coroa prata , como um reconhecimento.” Exceto a coroa, um adereço inusitado, o resto é totalmente descartável. Não descreva seus personagens como se eles fossem parte de uma lista de supermercado. 


Você acha que essa descrição levou o autor onde ele quis chegar? A próxima cena é com alguém tentando matá-lo. E então, conseguiu perceber a ligação? Porque não há ligação alguma. Tudo isso foi uma grande perda de espaço e que não introduziu a cena posterior de forma interessante/válida. Trace o caminho pelo qual deseja chegar.
Seu personagem vai tentar ser morto? O que deu origem a isso? Quem tenta matá-lo? Ele está onde, com quem? Qual o ambiente? O que essas personagens podem dizer para revelar parte da trama, mas sem exposição?


                        DICA 4: LEIA AS POSTAGENS DE DICAS, CRIATURA SAGRADA
Quantas vezes mais eu vou ter que repetir, hein, senhor Ferona?



Outra dica legal para ser seguida é: conheça a caverna. Procure por mapas de atalho, ossos roídos, cadáveres putrefatos, pegadas e fósseis. Utilize as ferramentas que tem ao seu lado para conseguir chegar no seu tesouro!
Ou seja: aproveite que, além de novels, nós também publicamos Dicas de Escrita! Temos postagens sobre ortografia, pontuação, descrições, diálogos, enredo e até sobre processo criativo. Todas essas outras postagens se complementam. 
Por exemplo, os verbos dicendi, explicados na postagem de diálogos, ajudam você a não contar, mas mostrar. Em um exercício de escrita, explicamos o motivo dos verbos de pensamento não serem nada úteis. E, ainda, explanamos o porquê dos advérbios matarem sua escrita. 

Você está com a faca e o queijo na mão: o resto é com você.


“Seguindo as dicas, o Ferona chegou ao final da caverna, desviando de informações inúteis que caíam sobre o chão e observando os locais mais seguros para pisar. Em sua frente, a aprovação. Mas será que ele conseguirá tê-la para si?”

Isso são cenas de um próximo capítulo.

A seção de comentários está livre para discussões, sugestões e dúvidas a respeito do tema. Nossas redes sociais também estão aí, caso queria entrar em contato. 

Longos dias e belas noites!

A penny for your thoughts.

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7 comentários

  1. Que post incrível! Foi um belo reforço para os outros, nos quais vocês tanto ajudam com essas dicas de escrita. Estou na etapa final antes de enviar o primeiro capítulo da minha novel, e acho que melhorei muito com todos esses posts! Espero que seja aprovado em breve XD

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    1. Obrigado, Kuroki! Não imagina o quanto ficamos felizes com seu comentário. Agora só falta encaminhar a novel: será que você conseguirá o Tesouro da Aprovação?

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  2. eu devo agradecer tb, para que pensava que esse traço (_) era trevessao kkkkk, mas pelo visto tenho que rever algumas descriçoes.

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    1. É sempre proveitoso descobrir nossos pontos fracos, que bom que percebeu isso a tempo!

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    1. Obrigado, Henrique! Fico muito feliz com seu comentário positivo!
      Qualquer dúvida, estamos à disposição.

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