Revisando! Figurinhas de Linguagem - Construção

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    Em postagens anteriores, conversamos sobre ferramentas da língua portuguesa capazes de alterar o significado de palavras e até mesmo de combinar pensamentos. Em ambos os casos, o foco principal recaía sobre as palavras e seus mais variados sentidos. Hoje, entretanto, a conversa é outra.

    Em vez de falar sobre sentido, falaremos sobre estrutura. Está na hora de conversarmos sobre Figuras de Construção!



Revisando o significado


    Para um escritor, a Língua Portuguesa é como uma loja de ferramentas. À disposição do escritor, estão todos os recursos que nossa língua tem para oferecer, sejam eles gramaticais, ortográficos ou estilísticos, como as figuras de linguagem. Por mais que existam vários desses recursos, cada escritor tem um estilo que se aproxima mais de alguns deles, enquanto se distancia de outros. Assim, construímos uma caixinha repleta de ferramentas, moldada de acordo com nosso estilo e com o texto que desejamos escrever.

    As Figuras de Linguagem são as ferramentas que o escritor utiliza para criar um texto marcante, com vida e profundidade. Entretanto, por mais diferentes que sejam, elas têm uma coisa em comum: a capacidade de fazer com que palavras e frases não fiquem presas ao dicionário, mas que adquiram um sentido diferente de acordo com o contexto. 

    Hoje, falaremos das Figuras de Sintaxe (ou de Construção). Esse tipo de ferramenta serve para mudar não apenas o sentido das palavras, mas a própria estrutura frasal. Elas podem inverter, repetir e até esconder partes das frases em que aparecem!


PLEONASMO LITERÁRIO


O pleonasmo acontece quando ressaltamos uma ideia através da repetição de palavras (podem ser as mesmas já utilizadas ou palavras diferentes, mas que transmitam a mesma ideia nesse contexto). Quando usado com sabedoria, o pleonasmo serve para deixar uma ideia em destaque. Porém, quando o pleonasmo produz uma repetição inútil, ele deixa de ser uma figura e e passa a ser um vício de linguagem.

Faz o seguinte: vai viver a sua vida e me deixa em paz com meus joguinhos de azar!

 Nesse exemplo, o autor reforça a importância de deixá-lo sozinho ao repetir a ideia de que seu ouvinte deve cuidar de sua própria vida, repetindo essa ideia com a aproximação de "viver" e "vida".


Eu preciso descer lá pra baixo! Minha entrega está chegando!

Agora, diferente do exemplo anterior, esse ferona utilizou o pleonasmo como vício de linguagem. Aqui, ressaltar a ideia de "descida" foi inútil e nada acrescentou ao discurso (além de uma provável resposta envolvendo "Mas você queria descer pra cima?"). 


ELIPSE


A elipse surge quando escondemos um ou mais termos de uma oração. Porém, por meio da análise do contexto ou de elementos gramaticais da frase, somos capazes de perceber quais termos foram omitidos.
Por favor, estou escrevendo um trecho importante da minha obra Heroes of The Rising Sun and the Magnificent Dawn. Depois cuido da janta.

Nesse caso, a elipse ocorreu porque o autor escondeu o "Eu" em "Por favor, [eu] estou escrevendo um trecho importante" e em "Depois [eu] cuido da janta". Perceba, inclusive, que esconder o sujeito deixou a frase menos repetitiva. Afinal de contas, ninguém merece ter que ler páginas e páginas com pronomes repetidos, não é?


Não, a gente não daria certo. Sabe como é. Por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento.

Nesse ditado popular, a elipse serve para omitir o verbo "Ser". Sem utilizar a elipse, a frase ficaria: "Por fora, [é] bela viola; por dentro, [é] pão bolorento." 


ZEUGMA


A zeugma é irmã da elipse. Enquanto a elipse emite um ou mais termos que podem ser identificados pelo contexto, a zeugma ocorre quando o termo omitido já foi mencionado antes.

Aquele ferona foi reprovado três vezes; o outro, cinco.

Na frase acima, o avaliador utiliza a zeugma para suprimir a ideia de reprovação sequencial. Sem a zeugma, a frase ficaria "Aquele ferona foi reprovado três vezes; o outro [foi reprovado] cinco [vezes]". Percebeu como a zeugma omite o que já foi dito, enquanto a elipse omite termos novos?



POLISSÍNDETO


Apesar do nome difícil, o polissíndeto é uma figura de sintaxe fácil de identificar. Sempre que você se deparar com uma oração que tenha várias conjunções coordenadas, você estará de frente a um polissíndeto. As conjunções que aparecem com mais frequência costumam ser "e", "ou" e "nem", trazendo a ideia de continuidade e acréscimo de informações.

Eu só queria um mês de férias e um aumento de salário e uma licença de cinco meses e talvez mudar de cidade. Nada muito drástico.

Aqui, o autor utilizou a conjunção "e" para passar a ideia de acréscimo de benefícios que ele gostaria de receber. 


ASSÍNDETO


Enquanto o polissíndeto traz a repetição de conjunções coordenativas, a característica mais marcante do assíndeto é a mais completa ausência de conectivos entre períodos compostos. Normalmente, utilizamos vírgulas no lugar das conjunções removidas pelo assíndeto. Dê uma olhada e compare com o exemplo do polissíndeto.

 Eu só queria um mês de férias, um aumento de salário, uma licença de cinco meses, talvez mudar de cidade. Nada muito drástico.

 

ANÁFORA


A anáfora é outra das figuras de construção fáceis de identificar. A particularidade dessa aqui é a repetição de termos no começo de frases. A anáfora costuma ser utilizada quando o autor decide reforçar termos do texto ou, ainda, quando pretende construir um efeito de coerência entre suas ideias.

O ferona lia, o ferona pensava, o ferona escrevia, o ferona enviava e o ferona reprovava. Por fim, o ferona começava tudo de novo. 

Aqui, o grupo "o ferona" foi repetido sucessivamente para enfatizar as ações realizadas por esse sujeito. Não seja como ele. 


ANACOLUTO


O anacoluto tende a ser mais utilizado na linguagem oral do que na escrita. A principal característica dessa figura de linguagem é a mudança da lógica da frase através de uma interrupção no discurso, deixando o termo inicial mais "solto", sem muita relação com os outros termos. Por isolar um termo da oração, o anacoluto costuma ser utilizado quando o falante deseja ressaltar a espontaneidade da oralidade ou enfatizar uma ideia/pessoa.

Feronas, como eles são complicados de fazer entender.

Perceba que o termo "feronas" praticamente ficou isolado do restante da frase. Você consegue entender a relação dele com a segunda metade, mas ele não tem uma relação sintática específica. Entretanto, é inegável que, nesse caso, o ferona roubou todos os holofotes.


E por hoje é só! Vejo vocês no mês que vem com a última parte da nossa série de Revisando! sobre Figuras de Linguagem. Espero vocês lá!









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