Revisando! Figurinhas de Linguagem - Semântica

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    Vasculhando nosso arquivo de postagens para o Revisando!, encontrei o texto antigo sobre Figuras de Linguagem. A postagem anterior continua muito boa, mas há espaço para comentarmos muito mais sobre assunto que tanto impacta a escrita criativa. No Revisando! deste mês, eu te convido para revisar o geral das Figuras de Linguagem  e se aprofundar nas Figuras de Semântica, uma subclasse das Figuras de Estilo que permite a mudança de significado das palavras. Para entender como esse grupo funciona e quais suas ramificações, basta Ler Mais!



O que são figuras de linguagem?


    Figuras de linguagem (ou figuras de estilo) são o tempero da escrita. Esses recursos da língua portuguesa são utilizados quando o objetivo do autor é produzir conotação, ou seja, quando o escritor dá um significado diferente do dicionário para alguma palavra/expressão de acordo com o contexto geral. Por exemplo, vamos analisar um trecho de Num Bosque de Bambu, do escritor japonês Ryunosuke Akutagawa:

"(...) os seus olhos transmitiram-me todo o seu coração. Aquilo que ali vi a brilhar não era ira nem dor. Era o relâmpago frio do desprezo — desprezo por mim."

    Pensando de maneira objetiva, um relâmpago não pode ser frio. Relâmpagos são, na verdade, extremamente quentes. Entretanto, o autor caracteriza a ideia de relâmpago não como o fenômeno da natureza, mas como o brilho rápido que a personagem viu nos olhos do outro. Aqui, relâmpago traz a ideia de rapidez, enquanto o frio qualifica essa rapidez como algo sem sentimentos, apático. Nesse caso, temos um exemplo de metáfora.

    Se a relação entre o exemplo e o conceito ficou confusa, vamos esclarecer as coisas:

  • O relâmpago. Objetivamente, se refere ao fenômeno luminoso super quente que costuma aparecer em tempos de chuva. No texto, apareceu com o significado de "evento rápido" ou algo próximo disso.
  • O frio. Utilizado normalmente com o significado de ausência de calor, aparece no texto com o significado próximo de "rispidez".
    Agora que já entendemos como essas figuras de linguagem aparecem, está na hora de ir mais a fundo no tema. Chegou a hora de conhecera as Figuras de Palavra.

Figuras de palavra/semântica


    O grupo das figuras de palavra diz respeito às diferentes maneiras de alterar o significado literal das palavras de acordo com o contexto do discurso. Elas são divididas em três subclasses diferentes: o das Comparações; das Metonímias e das Sinestesias. Calma, já vamos falar sobre todas elas.

    A subclasse das Comparações tem como habilidade-assinatura a comparação entre os sentidos das palavras (como "relâmpago" para significar "rapidez", uma vez que relâmpagos acontecem depressa)

    A subclasse das Metonímias se preocupa com a proximidade da palavra usada com a palavra original. Por exemplo, quando você diz "Eu gosto de ler Akugatawa", você está querendo dizer que gosta de ler as obras do autor Ryunosuke Akutagawa. A não ser que você trabalhe como cartomante ou algo assim, aí tudo bem.

    Por fim, a subclasse das Sinestesias está preocupada com misturar os sentidos (visão, audição, olfação, tato, paladar). Sabe quando você pensa "Nossa, os avaliadores estavam amargos hoje!"? Escolhendo acreditar no fato de que você não lambeu algum de nossos avaliadores, você provavelmente quis dizer que a equipe de avaliação foi severa com você.




SUBCLASSE: COMPARAÇÕES


COMPARAÇÃO - Mas seu primo já está viajando entre dimensões
Comparações acontecem quando duas ideias têm alguma semelhança entre si e o autor opta por deixar essa relação bem clara, utilizando para isso um termo comparativo (como, tal qual, quanto...).

Acompanhar Bungou Stray Dogs é como andar em uma montanha-russa.

A ideia da comparação é que Bungou Stray Dogs tem tantos momentos tristes (para baixo) e eufóricos (para cima) que eu me sinto andando de montanha-russa. Uma montanha-russa em alta velocidade que vai explodindo conforme desliza sobre os trilhos.

METÁFORA - Se é parecido, me empresta seu sentido
As metáforas podem surgir quando duas ideias têm alguma coisa em comum, fazendo com que uma palavra saia do sentido denotativo (do dicionário) e passe para o sentido conotativo (figurado). A principal característica da metáfora é ser uma comparação implícita, isto é, metáforas não possuem termos comparativos (como, tal qual, tanto quanto). 

A vida é um gacha.

Dificilmente você estará vivendo em um jogo gacha se estiver lendo essa postagem. Aqui, a ideia é de que a vida tem semelhanças com um gacha: você vive esperando tirar a sorte grande, mas isso só acontece de vez em quando (se acontece). E, quando acontece, não era bem o que você imaginava.

CATACRESE - É tão velho que ninguém mais se lembra quando surgiu 
Apesar desse subtítulo parecer uma descrição sobre mim, as catacreses são um pouco diferentes de um velhinho de bigode. Trocando em miúdos, catacreses são comparações que todo mundo usa por falta de um termo que expresse melhor determinada ideia. É como se você emprestasse uma palavra para tentar cobrir uma ideia que ainda não tem um termo específico na nossa língua. 

Ele parecia ter acertado a piada: as maçãs do rosto da garota ficaram ainda mais vermelhas.

A não ser que nossa garota carregue maçãs grudadas com fita crepe no rosto, o termo "maçãs do rosto" é usado para definir uma parte do rosto humano. É uma comparação tão difundida (entre o formato de maçã e desse pedaço do rosto) que ninguém se lembra de quando começou.

SUBCLASSE: METONÍMIAS


METONÍMIA - Oh, você está se aproximando de mim?
Metonímias surgem da proximidade de sentido entre duas palavras, o que acaba levando a uma substituição de sentidos. Por exemplo, podem acontecer trocas de:

autor pela obra: "Eu adoro ler Ryunosuke Akutagawa (o autor)", quando quer dizer "Eu adoro ler as obras de Ryunosuke Akutagawa".

o continente pelo conteúdo: "Tany não aguentava mais ler tanta novel ruim: ela precisava, pelo menos, de mais um copo de refrigerante (continente)", quando quer dizer "Tany não aguentava mais ler tanta novel ruim: ela precisava, pelo menos, de mais um copo com refrigerante (conteúdo)".

singular pelo plural: "O ferona (singular) sempre consegue se superar", quando quer dizer "Os feronas (plural) sempre conseguem se superar".

Existem muitas outras categorias de metonímia que não cabem nessa postagem. Se quiserem uma postagem só sobre isso, deixem um comentário!

ANTONOMÁSIA - Um jeito chique de se referir a apelidos ou nicknames
Antonomásias são substituições de um nome por outro, sendo que o segundo expressa alguma característica marcante do primeiro.

A história do ferona começa na Cidade Eterna, diferente da minha paciência com ele.

Cidade Eterna é um apelido carinhoso para Roma.

SUBCLASSE: SINESTESIA


Sinestesia - Isso é viajado demais... mas é estranhamente poético também
Sinestesias são figuras de linguagem bem viajadas. Elas misturam, em uma mesma frase, diferentes sentidos humanos!

Naquela noite, o avaliador olhou para o céu e percebeu que a lua brilhava amarga. Mais um dia sem descrições decentes em sua caixa de entrada.

Normalmente, brilhos não têm gosto. Aqui, a ideia é de que uma experiência anterior (uma caixa de entrada sem descrições decentes) modificou a experiência atual (de olhar para a lua), concedendo-a um novo significado.


E por hoje é só! Ufa, essa postagem ficou um pouquinho maior do que o comum. Ficou alguma dúvida? Quer comentar qual sua figura de semântica favorita, verificar se entendeu tudo ou fornecer mais exemplos agridoces para nossa exposição de desventuras? Fique à vontade no nosso campo de comentários. 

No mês que vem, continuaremos falando sobre Figuras de Linguagem, mas partiremos para outra categoria. Aguardo vocês lá!





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3 comentários

  1. Ótima postagem, Vong! Agora eu sei o motivo das minhas descrições estarem cruas.

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    1. Obrigado pelo comentário, Fim! Fico feliz que a postagem tenha esclarecido algumas coisas.
      Abraço. ~

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  2. Aaaaaa tô viciado nas suas postagens!

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