Emoções: um jeito diferente de pensar nossas histórias

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    Ah, as emoções! Aqueles estados internos que duram pouco, mas são tão fortes que chamam muito a nossa atenção. Você provavelmente já passou por algumas (se não várias) emoções marcantes enquanto lia algum livro e, com alguma memória, ainda é capaz de se lembrar qual cena causou tal emoção em você. Assim, parece que as emoções são fundamentais nas experiências literárias: mas, quando planejamos nossos textos, raramente pensamos nelas.  

    Será que é possível pensar na estruturação de histórias com base nas emoções que ela pode transmitir? Vamos conversar sobre isso e algumas outras coisas na nossa postagem de hoje. Se ficou interessado, basta Ler Mais!



Os padrões de nossas vidas

Nós somos feitos de padrões. Temos um certo padrão de alimentação, um padrão de sono, um padrão de comportamento e, também, um padrão de histórias. Pode reparar: se você não for completamente eclético, muito provavelmente prefere algum estilo ou gênero literário a outros. Eu mesmo prefiro drama à ação, assim como muitos preferem ficção científica à ficção fantástica e assim por diante. Mas nós podemos ir mais fundo que isso.

Se as histórias que gostamos têm algum padrão, será que elas têm mais alguma coisa em comum além dos gêneros? E eu te digo que, muito provavelmente, elas têm. Vamos fazer um exercício mental: pense nos seus livros favoritos. Agora, veja se os dilemas dos personagens são parecidos, se o conflito é similar, se a narrativa deles bate em algum aspecto. 

    Esses padrões entre as histórias favoritas das pessoas acontecem porque nós tendemos a preferir histórias que batam com nosso gênero pessoal. Ou seja, é provável que nós sejamos atraídos por certos temas porque temos uma vontade especial de explorar certas situações — qualquer que seja a razão. Por exemplo, eu adoro histórias de drama e mistério: tenho um gosto especial por narrativas que falem sobre coisas pequenas, cotidianas, mas que só poucas pessoas percebem. Isso me dá a empolgação de quando descobrimos algo novo, acompanhado de uma melancolia, finalizando com uma alegria de dever cumprido. Então, espera aí...

A Mudança Principal

    Aqui no MLN, já falamos várias vezes que história é feita de conflito e mudança — um desafio e uma resolução, positiva ou não. Histórias legais incluem mudanças que são resultado tanto de eventos externos como de mudanças internas do personagem. Em "O Castelo Animado", filme que ilustra essa postagem, nossa personagem principal passa a encarar o mundo de um jeito bem diferente depois de viver e de pensar sobre certas coisas. 

    Esses conflitos que o Sophie viveu fizeram parte do que podemos chamar de “Mudança Principal”: aquilo que aconteceu com a história desde que ela começou até o ponto em que ela terminou. Por exemplo, romances costumam ter o Núcleo de Mudança ligado ao ódio-amor; mistérios, de desconhecido-conhecido; dramas, de negação-aceitação e assim por diante. Porém, durante esse processo, coisas aconteceram e seus personagens reagiram física e emocionalmente a elas.



A Emoção Principal

Se histórias legais têm uma boa Mudança Principal, histórias ainda mais legais têm uma Emoção Principal coerente. Como já conversamos, as histórias que lemos e vivemos são capazes de nos fazer sentir várias emoções diferentes — e a Emoção Principal nada mais é do que aquela que você sente quando lê uma história e aquela que você quer que seu leitor sinta quando estiver lendo a sua história.

Um bom romance te faz sentir conexão com outras pessoas. Um bom mistério te deixa intrigado. Um bom drama te deixa pensativo e melancólico. O que eu quero te mostrar com tudo isso é que nossas histórias nada mais são do que um conjunto de eventos, dilemas e emoções humanas: é justamente a mistura da Mudança e da Emoção Principal que fará sua história ser marcante e emocionante. Quando essas duas coisas coincidirem com o ponto alto da sua história, você verá o Evento Principal acontecendo.


O Evento Principal 

O Evento Principal é o momento em que a história passa por uma transformação: a Mudança Principal acontece (de ódio para amor, por exemplo) e a Emoção Principal está totalmente presente (o sentimento de conexão, no caso do romance). Esse momento, que pode ser uma cena ou mais de uma, é aquilo que vai fazer você se lembrar daquela história. Se o Evento não acontecer ou for mal escrito, o leitor vai se sentir menos recompensado por ter chegado até ali e, consequentemente, menos interessado em prosseguir.

Lembre-se que aquilo que está antes do seu Evento Principal está construindo o terreno para ele e aquilo que está depois dele, está mostrando as consequências dele. Se você conseguir pensar um Evento coerente com sua narrativa, respeitando sua Mudança e Emoção principais, pode acreditar que a história ficará bem mais fácil de escrever.

Para fechar, podemos pensar nos mesmos exemplos. Em romances, o Evento costuma estar ligado à declaração/prova de amor. No mistério, pode ser o momento de insight do detetive. No drama, é a percepção de que algo precisa acabar para outra coisa começar.



Sua vez

    Pense na sua história (própria ou favorita): A cena que você se lembra com mais força é, provavelmente, o Evento principal; a emoção que você vivenciou durante essa cena provavelmente é a Emoção Principal; e a característica humana que mais se alterou será sua Mudança Principal. E, por fim, se lembre de preparar o terreno antes do Evento e de mostrar suas consequências depois que ele acontecer.

Talvez as coisas fiquem mais emocionantes a partir de agora.
 
Dúvidas, críticas e sugestões podem ser colocadas no campo dos comentários! Lembre-se sempre de respeitar os colegas e a staff, afinal, nós também temos emoções. Nos vemos em outra postagem e até a próxima!

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4 comentários

  1. Até fiquei vontade de assistir o filme, rsrs.

    Eu não sei se é errado mas perante a minha história, eu planejei em vários eventos de mesma magnitude que irão impactar o enredo e os personagens obviamente. Então mesmo que eu tenha um maravilhoso evento que cause um grande sentimento de recompensa para o leitor, relacionado a trama principal, ainda me resta outras tão impactantes quanto. Seria certo ou errado ter outros eventos além do principal?
    Incluindo diferentes tipos de eventos como escrito no post, ou como em minha história: uma declaração de amor pelo seu escravo, ódio e rancor da morte de sua irmã pelas mãos de quem tentou te proteger, a negação de sua própria vontade, a aceitação de seus limites, a descoberta de um falso pai, entre outros.

    Além, é claro, deles serem importantes para prepararem o terreno do grande evento que mudará o trajeto da história.

    E entrando na aração do terreno narrativo para um grande acontecimento. Qual é o momento certo para tal? Tem de ter uma grande preparação? Não pode enrolar muito?

    Eu sempre fiquei me perguntando. A percepção do fim do mistério ou o sentimento de recompensa que o seu leitor terá com um evento principal, é responsabilidade totalmente do autor fazer com que o leitor atinja o entendimento ou o leitor também pode não captar a mensagem que o autor quis transmitir?
    Há vários casos de filmes ou obras criticadas em sua época que atualmente fazem muito sucesso. Um grande exemplo disso são os quadros ‎Vincent van Gogh,(Obviamente não é meu caso), é um saco você pensar em algo mirabolante e quando você entrega para seu amigo ou autor beta ler, ter de explicar todo o contexto ao invés de receber um, "WOW! QUE GENIAL!".

    Uma última pergunta, o tempo de entrega da avaliação de histórias entregues ainda são de 8 dias, certo? Eu to muito ansioso para ser reprovado, gomen.




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    Respostas
    1. Olá, Unknown! Obrigado pelo comentário!
      Respondendo às suas colocações:

      1. Seria certo ou errado ter outros eventos além do principal?
      Pelo que entendi, você disse ter efeitos de mesma magnitude. Há um evento impactante e outros tão impactantes quanto. Bom, é sempre importante pensar para quem isso é importante. O Evento Principal está relacionado ao enredo, aquele momento de catarse em que tudo na história se encaixa e faz sentido. Os outros eventos relacionados (que devem existir) não deveriam ser tão grandes quanto o Evento que faz a trama toda girar, concorda? Se não tudo passa a ser importante e nada se torna importante. Talvez fosse melhor pensar para quem isso vai ser importante e de que maneira você pode ressaltar que esses eventos têm sua importância dentro de seu núcleo, fazendo-os enriquecer a construção até o Evento Principal. Em síntese: é muito importante criar esses eventos secundários, mas cuidado para eles não ofuscarem o Evento Principal.

      2. Toda essa questão está diretamente ligada com seu estilo, então não tem uma resposta correta. O que eu mais gosto de pensar é na naturalidade: os eventos menores que estão construindo o terreno para o grande evento fazem sentido? Acontecem de um jeito coerente com as regras do mundo? Eles têm consequências? Claro, se o evento for grande, é essencial revelar algo dele para o leitor anteriormente (se possível), para ir construindo tensão. Mas com relação à enrolação, é interessante pensar se não está passando tempo demais ou de menos elaborando o grande evento. Se passar tempo demais, o evento vai se tornar mais importante do que todo o resto dos acontecimentos, personagens e enredo; se passar tempo de menos, ele deixa de ter importância e o leitor não vai ficar satisfeito com sua conclusão. Em resumo: é mais uma questão de planejar e perceber quando você pode começar a criar terreno e quando deve dar atenção a outros eventos da história.

      2.1. A ideia do sentimento de recompensa está ligada com a proposta da sua obra. Por exemplo, existem obras que conseguem fazer o leitor se sentir recompensado com um final mais aberto a interpretações (como no conhecido filme A Origem), enquanto outras já partem da ideia de que o conflito será fechado no fim da história (como em Harry Potter ou nos romances policiais de Doyle e Agatha). O leitor vai captar alguma mensagem em qualquer um desses casos: basta saber se você, autor, quer que alguma mensagem se sobressaia à interpretação própria do seu leitor e dos significados que ele, pessoalmente, extrairá dela.

      3. Sim, o prazo da avaliação é de 8 dias.

      Espero ter te ajudado. Um abraço!

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    2. Obrigado por ter responder!

      Isso me fez repensar mais sobre o que focar e o que descartar.

      Sobre o prazo, ainda tem uns dias restantes. Então não faz mal.

      Abraços!

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