Distopia: Acomode-se ou rebele-se!

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“Shh, fale mais baixo; os guardas não podem te ouvir. Aqui nós não temos direito a muita coisa, a não ser viver sob as ordens rígidas e imutáveis do Estado. Vivemos sob um regime ditatorial, onde o poder é incontestável, e quem questiona isso, morre em um piscar de olhos. As noites são frias, as ruas vazias, e as pessoas... Bem, pode-se dizer que são uma mistura dessas duas características. Não, não, espere, seu guarda! Eu só estava falando sobre o quão lindo o gov...” Ex-morador de uma distopia.

Observe. Critique. Crie. Essas são as três principais palavras que um autor distópico deve ter em mente ao criar sua obra.  E se você for aquele aluno malemolente, sagaz e esperto, já deve ter percebido uma relação muito próxima entre a utopia e a distopia: elas têm a mesma raiz etimológica. Espera, não entendeu? Então deixa eu te mostrar.

Utopia: Do grego “ou+topos” que significa “lugar que não existe”.
Distopia: Do grego “dys+topos” que significa “lugar ruim que não existe”.

E aí, conseguiu entender agora? Enquanto uma é perfeita demais para existir, a outra se torna ruim justamente por ser plausível dentro da nossa realidade. Mas se segura aí que tem muito mais do que apenas etimologia. Pronto uma aula de filosofia, sociologia e história com o Prof. Vong? Assim sendo, bora lá.

Assim como a utopia é um pensamento filosófico, sua irmã também é. Contudo, a distopia é caracterizada como uma sociedade controlada por um Estado extremamente autoritarista (eu mando, você obedece, ponto final), totalitarista (eu crio as leis, eu implemento as leis, eu mando em tudo o que é seu), e opressor (ah, é mesmo?). Enquanto o poder fica na mão de poucos, o sofrimento fica na de muitos.

O povo da sociedade distópica é fraco, suscetível à manipulação e age como robô: são completos ignorantes. E sabe o que é mais legal? Ninguém enxerga isso. Ou melhor, ninguém quer enxergar.
Lembra que eu disse que o governo é extremamente opressor? Pois é, qualquer coisa que fuja dos padrões impostos pelo(s) ditador(es) é combatida com a mais pura e inteligente violência. Digo inteligente pois, veja se concorde comigo, em uma sociedade em que um governo controla plenamente o povo, existem pessoas muito capazes de matar sem deixar vestígios. E, no caso, essas pessoas são os políticos.

Calma, calma, não rebele-se contra o sistema ainda. Os políticos da distopia são os ditadores, aqueles que criam as próprias leis – leis estas que os beneficiam -, que agem de acordo com sua vontade, que querem apenas dinheiro e pouco se importam com o povo. Isso certamente é bem familiar pra você, principalmente se acompanha os noticiários. Então, chegamos ao cerne da distopia.

A distopia pega um problema social e extrapola-o em escalas estratosféricas, mostrando suas consequências. No final, ela nada mais é do que uma previsão pessimista e extrapolada da realidade. E serve para nada mais além do que abrir nossos olhos para os problemas atuais de nossa sociedade.

Corrupção, fome e miséria? Encontramos muito disso em uma sociedade distópica. O ser humano se tornou um objeto das mãos do sistema, que somente pensa em lucrar. Alguns, entretanto, como é o caso do personagem central de "Admirável Mundo Novo", vivem muito bem, exceto quando questionam alguma situação. Aí eles tem de ingerir uma pequena cápsula chamada de "S.O.M.A", que os deixa relaxados e os faz esquecer dos problemas a sua volta. Será que isso não é uma metáfora para alguma coisa da nossa realidade? Pense aí e me diga nos comentários.

Aliás, você já se imaginou vivendo dentro de um apartamento escuro, com várias câmeras te observando 24 horas por dia? Ou dentro de um laboratório, condicionando recém-nascidos a respeitar o sistema de maneira plena, do contrário, eletrocutando-os com choques quase letais? E se quiser puxar mais ainda para a nossa realidade, já se imaginou vivendo em uma sociedade desse jeito?



Pois é, imagine-se nessas situações. O quão doloroso deve ser viver sem esperanças de acordar vivo? O quão miserável devem ser os ditadores, a ponto de criar uma sociedade "perfeita" desse jeito? Por que alguém criaria um modelo social movido pelo dinheiro, pela vitimização, pela compra de votos em troca de dinheiro, ou suborno em troca de silêncio... Espera, isso me é familiar...
Contudo, não pense que vivemos em uma distopia, pois como disse lá em cima, significa "lugar ruim que não existe".

E, olha, se você for um aluno ainda mais aplicado do que eu imaginava  você merece um dez redondinho, deve ter percebido alguns tópicos recorrentes nos exemplos que eu dei nesse post todo.

Violência generalizada e motivada por ideais radicais;
Discurso pessimista sobre o mundo;
Poder opressor concentrado na mão de poucos;
Exploração a ignorância coletiva.

E, sim, é possível uma distopia estar disfarçada de utopia. Em BioShock Infinite, por exemplo, percebemos que a cidade voadora não é assim tão perfeita.
Aliás, existem vários tipos de utopia. Vamos conhecer alguns deles.


Distopia Totalitária - 1984 e V de Vingança.

 Caracteriza uma sociedade que é totalmente controlada pelo seu governo, através de ideologias. Os cidadãos são monitorados de perto e qualquer fagulha de revolta é punida severamente.



Distopia Tecnológica/Cyberpunk - Admirável Mundo Novo e Matrix.

Uma distopia cyberpunk é, geralmente, uma versão exagerada de nossa própria sociedade. Apesar de ser um gênero heterogêneo, a maioria das distopias tem os seguintes temas: a aceleração da evolução tecnológica, o iminente colapso ambiental, a urbanização alcançou novos níveis e os crimes fora de controle. Também é importante ressaltar que o conceito de cyberpunk é a cibernética. Melhorias artificiais no corpo, na mente, no cyber espaço, na internet. Geralmente são histórias violentas e com grande apelo histórico e científico.

  
Distopia Anárquica - Jogos Vorazes e Divergente.

Diferentemente das outras distopias, essa apresenta um grande teor revolucionário. Seja através de grupos anarquistas ou de uma simples pessoa, você pode esperar grandes e radicais ideais vindos dali. 


Distopia Apocalíptica - The Walking Dead.

A humanidade, ou às vezes uma única nação ou um grupo étnico, estão enfrentando um Armageddon, seja ele uma guerra nuclear, queda de meteoritos gigantes, desastres naturais ou um vírus que transformam pessoas em zumbis. O foco principal pode ser político, no entanto, histórias apocalípticas podem expor a psicologia obscura do homem. As vítimas do apocalipse podem ser egoístas, cínicas e oportunistas, mesmo no momento da aniquilação.


Distopia Pós-Apocalíptica - A Dança da Morte e Mad Max.

A causa é a guerra nuclear, o colapso ambiental ou epidemias mortais. O efeito é geralmente a anarquia e a sobrevivência do mais apto, e uma regressão ao feudalismo também.


Distopia Alienígena - Guerra dos Mundos e A Hospedeira. 

A Terra foi ocupada ou infiltrada por outra espécie de algum sistema solar distante. Em muitas distopias alienígenas, os ocupantes quase sempre exibem uma grave falta de empatia e tendem a tratar os seres humanos como escravos sem valor e animais primitivos. Um dos pontos fortes da distopia alienígena são as maneiras inteligentes e criativas para falar dos choques culturais.


Distopia Pseudo-Utopia - BioShock Infinite e O Preço do Amanhã.

Sua utopia pode ser minha distopia e vice-versa. Criadores de utopias muitas vezes têm uma imagem muito clara do seu paraíso pessoal e não gostam de pessoas que se atrevam a criticar suas paisagens oníricas. Muitas das chamadas utopias são estritamente hierárquicas. A classe dominante é uma elite intelectual com poder absoluto e os dissidentes são ameaçados com desdém, ou até mesmo crueldade. Os inimigos são tratados sem piedade, quase sadicamente. Tecnicamente, a maioria das utopias pertence a essa categoria.


Distopia de Viagem no Tempo – The Time Machine.

Nestas histórias as trevas estão esperando: guerra nuclear, inteligência artificial, colapso ambiental, pragas etc. Na maioria das histórias de viagem no tempo, os agentes são enviados para o nosso tempo a fim de mudar a história. Como o nome sugere, distopias de viagem no tempo costumam se concentrar mais em como certos eventos podem mudar a história. O objetivo é brincar com o nosso medo do futuro e enfatizar que nós podemos criar o nosso próprio amanhã.


Muito mais do que apenas uma sociedade, a Distopia é um gênero que exige muito trabalho e questionamentos - se você reparar, eu fiz vários deles para o leitor. Percebemos que o universo distópico é solitário, frio e sombrio, onde somente os ignorantes sobrevivem. Vimos também as condições miseráveis em que a maioria das pessoas vive, e a ótima condição de vida dos políticos. E também percebemos que, mesmo que minúscula, há uma fagulha de questionamento em relação ao sistema. Em uma distopia, ou você vive para ficar quieto, ou morre gritando um ideal de mudança.

Agora você já conhece o básico desse gênero. Antes de se aventurar por ela, no entanto, é necessário conhecer muito bem o que irá criticar.
Lembre-se que aqui tudo deu errado e continuará dando, até que alguém se dê conta do que está acontecendo e decida por um fim àquilo – o que, normalmente, não acontece. Mas isso não é uma regra. Afinal, você  o dono da sua própria história. E, como se trata de uma distopia, cuidado para ela não acabar tomando o controle de você.

Se é que ela já não o fez.



Fontes: http://ligadosbetas.blogspot.com.br/2014/04/por-ironborn-liga-dos-betas-perfil.html
http://www.momentumsaga.com/2014/07/o-que-e-distopia.html
http://www.significados.com.br/distopia/
http://www.infoescola.com/literatura/distopia-na-literatura/


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2 comentários

  1. Esse post me ajudou bastante no esclarecimento da minha dúvida em relação à definição de distopia. Vlw Mr. Vong!

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    1. De nada, Sr.Ragna! Qualquer dúvida é só ligar o Vong-Sinal!

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